Por que repito padrões emocionais nos relacionamentos?
- Leila Vieira
- 13 de jun.
- 4 min de leitura

Quantas vezes você já se pegou repetindo padrões nos relacionamentos, escolhendo pessoas que, no fim das contas, te machucam da mesma forma? Parece um ciclo interminável, não é mesmo? Você se promete que dessa vez será diferente, mas, de repente, lá está você novamente, sentindo a mesma dor, a mesma decepção. Por que isso acontece? E, mais importante, como quebrar esse ciclo?
Esse é um tema profundamente explorado no desenvolvimento emocional e na terapia, e ele revela muito sobre como nossas experiências passadas, crenças inconscientes e necessidades emocionais moldam nossas escolhas amorosas. Vamos mergulhar nessa questão, trazendo insights de autores e pensadores que estudaram o comportamento humano e os relacionamentos.
O papel do inconsciente nas nossas escolhas
Sigmund Freud, o pai da psicanálise, já dizia que "o inconsciente é o grande regulador da nossa vida." Isso significa que muitas das nossas escolhas, especialmente no amor, são guiadas por padrões que nem sempre entendemos. Esses padrões muitas vezes estão ligados a experiências da infância, traumas não resolvidos ou necessidades emocionais que carregamos desde cedo.
Por exemplo, se você cresceu em um ambiente onde o amor era condicional (ou seja, você só recebia afeto quando atendia às expectativas dos outros), é possível que, inconscientemente, você busque parceiros que reproduzam essa dinâmica. Você pode se atrair por pessoas que te fazem "trabalhar" pelo amor, porque essa é a forma de amor que você aprendeu a reconhecer.
A atração por padrões familiares
John Bradshaw, autor de "Healing the Shame That Binds You", fala sobre como repetimos padrões familiares em nossos relacionamentos. Ele explica que, mesmo que esses padrões sejam dolorosos, eles nos são familiares e, por isso, nos sentimos "em casa" neles. É como se nosso cérebro dissesse: "Eu sei como lidar com isso, mesmo que seja ruim."
Isso explica por que muitas pessoas se sentem atraídas por parceiros que as tratam de forma semelhante a como foram tratadas na infância. Se você cresceu em um ambiente onde o amor era misturado com dor, pode acabar se envolvendo com pessoas que reproduzem essa mistura, porque é o que você entende como "amor".
A ferida do abandono e a necessidade de reparação
Outro fator que influencia nossas escolhas amorosas é a chamada "ferida do abandono", um conceito explorado por autores como Claudia Black e John Bowlby. Se você teve experiências de abandono ou rejeição na infância, pode desenvolver um medo profundo de ser abandonado novamente. Esse medo pode levar você a se apegar a relacionamentos tóxicos, na esperança de "consertar" a ferida original.
A psicóloga Harville Hendrix, em seu livro "Getting the Love You Want", fala sobre como escolhemos parceiros que nos ajudam a reviver e, potencialmente, curar feridas emocionais do passado. Ele chama isso de "poder de atração do ferimento." O problema é que, sem consciência e trabalho emocional, acabamos repetindo os mesmos padrões, em vez de curá-los.
Autossabotagem e baixa autoestima
Muitas vezes, a repetição de padrões dolorosos também está ligada à autossabotagem e à baixa autoestima. Se você não acredita que merece um amor saudável e respeitoso, pode acabar se envolvendo com pessoas que confirmam essa crença. Como diz Brené Brown, pesquisadora e autora de "A Coragem de Ser Imperfeito", "nós aceitamos o amor que achamos que merecemos."
Essa autossabotagem pode se manifestar de várias formas: ignorando red flags, justificando comportamentos tóxicos ou se mantendo em relacionamentos que não te fazem feliz. É como se você estivesse dizendo a si mesmo: "Isso é o melhor que eu posso conseguir."
Como quebrar o ciclo?
A boa notícia é que, embora esses padrões sejam profundos, eles não são permanentes. Com autoconhecimento, terapia e disposição para mudar, é possível quebrar o ciclo e começar a fazer escolhas mais saudáveis. Aqui estão alguns passos que podem ajudar:
Autoconhecimento: Reflita sobre seus relacionamentos passados. O que eles têm em comum? Quais são os padrões que você identifica? Escreva sobre isso e tente entender o que essas escolhas dizem sobre suas necessidades e feridas emocionais.
Terapia: Um terapeuta pode te ajudar a explorar as raízes dos seus padrões e a desenvolver estratégias para mudá-los. Ferramentas como Mindfulness, Inteligência Emocional e Hipnoterapia são especialmente úteis para trabalhar crenças limitantes e traumas não resolvidos.
Trabalhe sua autoestima: Comece a se tratar com mais compaixão e gentileza. Reconheça seu valor e entenda que você merece um amor que te respeite e te faça feliz. Como diz Louise Hay, autora de "Você Pode Curar Sua Vida", "o amor próprio é a base para todos os outros amores."
Estabeleça limites: Aprenda a dizer não e a priorizar suas necessidades.
Relacionamentos saudáveis são construídos com respeito mútuo e limites claros.
Dê tempo a si mesmo: Se você percebe que sempre escolhe as mesmas pessoas, talvez seja hora de fazer uma pausa nos relacionamentos. Use esse tempo para se reconectar consigo mesmo e entender o que você realmente quer e precisa em um parceiro.
O amor começa por você
No final das contas, a chave para quebrar o ciclo de escolhas dolorosas está em você. Como diz o psicólogo Carl Rogers, "o curioso paradoxo é que, quando eu me aceito como eu sou, então eu posso mudar." Quando você começa a se amar e a se respeitar, naturalmente atrai pessoas que refletem esse amor e respeito.
Então, da próxima vez que você se pegar repetindo os mesmos padrões, lembre-se: você não está condenado a viver assim para sempre. Com consciência, coragem e apoio, você pode aprender a escolher de forma diferente. E, quem sabe, encontrar um amor que não machuca, mas cura. 💛
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