Dor emocional herdada: quando o sofrimento do outro se torna seu
- Leila Vieira

- 22 de set.
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de set.
Você já se perguntou por que sente certas dores ou bloqueios emocionais que parecem não ter explicação lógica? Muitas vezes, o sofrimento que carregamos não nasceu em nós. Ele pode ser fruto de algo chamado dor emocional herdada — experiências emocionais internalizadas a partir de pessoas próximas, especialmente pais, irmãos ou cuidadores.
Neste artigo, você vai descobrir como a dor emocional herdada atua silenciosamente em nossas escolhas e emoções — e como a hipnoterapia e neuroterapia ajudam a ressignificar esses padrões invisíveis.

A neurociência tem demonstrado que nossas memórias, comportamentos e até reações fisiológicas podem ser influenciadas por dores não vividas diretamente, mas absorvidas pelo vínculo. Esse tema, que antes parecia abstrato, hoje encontra respaldo em áreas como a psicologia transgeracional, a neurociência afetiva e a epigenética.
A história de Marina: quando a dor do outro se torna sua
Marina, 34 anos, buscou atendimento relatando algo curioso: ela sentia um desconforto profundo sempre que precisava aparecer em fotos ou vídeos. Embora gostasse de registrar memórias da infância, quando chegava sua vez de estar diante da câmera, uma angústia inexplicável a paralisava, como se a exposição a tornasse “não merecedora” daquele momento feliz.
Conscientemente, nada justificava aquele incômodo até que, durante uma sessão de hipnoterapia, uma lembrança emergiu. Aos 7 anos, Marina sorridente tirava uma foto ao lado da irmã mais velha. O detalhe é que o foco dessa lembrança não estava no seu sorriso, mas sim no olhar triste da irmã.
Na sequência da sessão, outra memória foi acessada. Nela a irmã relatava que o momento daquela foto havia sido um dos mais tristes de sua infância, pois sentia profunda vergonha com o corte do cabelo que a mãe havia feito por conta de uma infestação de piolhos – corriqueiro na época – e Marina, com cabelos lisos, foi poupada do corte.
Sem perceber, Marina absorveu a dor da irmã. A partir daí, registros fotográficos deixaram de ser símbolos de alegria e passaram a carregar tristeza, injustiça e culpa.
Esse caso ilustra como o inconsciente pode registrar dores que não são nossas, mas que moldam comportamentos e percepções ao longo da vida.
A base científica da dor emocional herdada
A ideia de que sentimentos podem ser transmitidos entre gerações não é apenas simbólica. Didier Dumas, psicanalista francês, explica que “crianças não apenas escutam, mas herdam emocionalmente traumas mal elaborados de pais ou irmãos”, o que pode se manifestar em sintomas ou bloqueios inconscientes.
A psicologia transgeracional, a neurociência afetiva e os estudos sobre memória emocional reconhecem que o cérebro humano é altamente permeável à experiência do outro — especialmente na infância, período em que nossas redes neurais estão em formação acelerada.
A neurocientista Lisa Feldman Barrett, em seu livro How Emotions Are Made (2017), destaca que as emoções são construções cerebrais moldadas pelo contexto social e afetivo. Isso significa que o cérebro em desenvolvimento absorve intensamente as emoções daqueles com quem mantém vínculos mais fortes.
Pesquisas em epigenética também reforçam essa perspectiva. A psiquiatra Rachel Yehuda (2016), referência mundial em trauma transgeracional, demonstrou que descendentes de sobreviventes do Holocausto apresentavam alterações epigenéticas ligadas à resposta ao estresse. Ou seja, marcas traumáticas podem atravessar gerações, influenciando o corpo e a mente.
Além disso, Anne Ancelin Schützenberger, em A Síndrome dos Antepassados (1998), mostrou como lealdades familiares invisíveis podem levar descendentes a repetir dores e destinos de seus antepassados.
Tudo isso reforça que a dor emocional herdada tem base real e mensurável — e não se trata apenas de metáfora.
Como a dor herdada se manifesta
Esse tipo de sofrimento raramente aparece de forma explícita. Ele costuma se disfarçar em comportamentos do dia a dia, como:
Autossabotagem diante da felicidade;
Culpa ao relaxar ou se destacar;
Medo irracional de ser visto ou reconhecido;
Travamentos em momentos de exposição ou alegria;
Dificuldade em se autorizar ao prazer.
Esses sinais são como ecos de experiências alheias que permanecem gravados em nosso corpo e mente, mesmo que não tenhamos consciência disso.
Reconhecer não é culpar
Um dos maiores receios de quem se depara com a ideia de dor herdada é pensar que estará culpando seus pais ou familiares. No entanto, reconhecer não significa acusar. Significa compreender a história emocional para interromper ciclos de sofrimento.
O psicólogo Carl Jung dizia que “o que não é trazido à consciência retorna como destino”. Reconhecer a dor emocional herdada é um passo para que ela deixe de se repetir em nossas escolhas e relacionamentos. Reconhecer que a dor não é sua, não te torna ingrato. Te torna livre.
O papel da hipnoterapia e da neuroterapia
A hipnoterapia clínica é uma ferramenta eficaz para acessar memórias implícitas que o raciocínio consciente não consegue alcançar. Já a neuroterapia atua regulando o sistema nervoso, permitindo que o corpo se desconecte de estados herdados de tensão e reative a sensação de segurança interna.
Essa integração é ainda mais valiosa na terapia de casais. Muitas dores herdadas são reativadas no vínculo íntimo, criando conflitos que não têm origem na relação, mas que afetam diretamente a convivência.
Um caminho de libertação
Marina, após acessar sua memória, chorou pela dor da irmã. Mas também se libertou do peso de carregar uma culpa que nunca foi dela. Ao compreender que aquela emoção não lhe pertencia, pôde abrir espaço para viver registros fotográficos como novas experiências, sem repetições inconscientes.
Esse é o poder de reconhecer: não é ingratidão, é liberdade. É permitir que o amor flua sem o peso de dores antigas, herdadas ou não.
Conclusão
Se você sente que algo o impede de se sentir merecedor da felicidade, mesmo sem motivo aparente, talvez esteja carregando uma dor que não é sua. A boa notícia é que, com acompanhamento adequado, é possível ressignificar essas marcas e abrir espaço para uma vida mais leve e consciente.
No Instituto Hiddes, trabalhamos com hipnoterapia, neuroterapia, terapia sexual e terapia de casais, integrando ciência e afeto para que cada pessoa possa libertar-se dos pesos que não lhe pertencem e construir novos caminhos de cura.
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